Edição 11 - março de 2018

Editorial
Experiência, inovação e tecnologia para atender o mercado e desenvolver o País
MARCOS AURÉLIO LIMA DE OLIVEIRA
Coordenador-geral de Acreditação

A acreditação é um dos pilares que sustentam o sistema da qualidade, junto com a metrologia, a normalização e a avaliação da conformidade. No Brasil, todas as atividades de acreditação são desenvolvidas pela Coordenação Geral de Acreditação (Cgcre) do Inmetro, que é signatária dos principais Acordos de Reconhecimento Mútuo existentes no mundo. Isso significa que nossas atividades são reconhecidas internacionalmente, o que reduz a necessidade de reavaliações nos países importadores.

Nos últimos dez anos, o número de organismos acreditados no Brasil cresceu vertiginosamente, passando de 400 para aproximadamente 3 mil. Além da ampliação da base – horizontal – houve também um crescimento vertical da quantidade de normas acreditáveis. Como os outros grandes acreditadores mundiais, nosso portfólio, hoje, é composto por 10 normas de acreditação, incluindo Boas Práticas de Laboratórios. Atualmente, temos cerca de um milhão de ensaios acreditados.

Um crescimento tão grande, em pouco tempo, exigiu que fizéssemos revisões e aprimoramentos em nossos processos de trabalho. Para isso, usamos a inteligência, o conhecimento e a experiência que a equipe da Cgcre absorveu ao longo dos anos para atingir nosso objetivo, que é o menor tempo possível nos processos, com a maior qualidade.

Há um entendimento internacional de que uma acreditação deve levar um tempo médio de seis a oito meses. Nós cumprimos essa média para a acreditação de organismos de certificação e de inspeção. Para os laboratórios, apesar dos avanços que obtivemos a partir de 2016, ainda estamos trabalhando para melhorar.

Com limitação de recursos financeiros, precisamos, mais que nunca, lançar mão da inteligência e da tecnologia para aprimorar e agilizar os nossos processos. Recentemente, lançamos um projeto piloto para avaliação remota de organismos de certificação. É uma inovação, um grande salto, mas não queremos parar por aí.

Para o médio e longo prazo, temos o projeto de acreditação inteligente ou auditoria 4.0. Tenho estudado bastante no último ano e não tenho dúvidas de que podemos introduzir a revolução trazida pelas tecnologias de informação e comunicação para as atividades do Inmetro e, de modo particular, para as da área de acreditação.

Para avançar e ocupar o protagonismo internacional nessa linha, criamos um grupo na Cgcre para estudar o tema, visitar instituições e manter contato com especialistas em automação e inteligência artificial. Também tenho conversado com colegas de outros países e com diversos setores como o agronegócio e o automobilístico. Todos ficam positivamente surpresos de estarmos pensando nisso, porque entendem que o processo de acreditação ficará melhor, mais otimizado e mais barato.

Ainda estamos no âmbito das ideias, refletindo sobre os processos. Posteriormente, será necessário desenvolver a tecnologia, que ainda não temos. O objetivo com a auditoria 4.0 não é só reduzir o tempo das inspeções, mas também acompanhar de perto o resultado na ponta. Como exemplo, posso citar o setor de agropecuária e de segurança veicular.

Tudo será feito de forma rápida, com pouca intervenção humana e a linha de produção estará monitorada 100% do tempo, com menor possibilidade de fraude. O resultado é que o usuário vai receber produtos, processos e serviços com muito mais credibilidade.

Eu não sei como isso vai ser feito em termos de tecnologia da informação, mas conheço bem o processo de acreditação e estou certo de que é um caminho totalmente viável e seguro.

Falando ainda de inovação e novos negócios, tivemos dois importantes projetos lançados no ano passado. Um deles é a acreditação de organismos de inspeção para empreendimentos de infraestrutura, para o qual já temos três solicitações de acreditação e oito organismos designados.

O programa visa a trazer credibilidade para o mercado, contribuindo para que haja financiamentos mais controlados, menos desperdício de recursos, redução de aditivos e cumprimento mais rigoroso de cronogramas de grandes obras. A ideia é que investidores nacionais e estrangeiros tenham mais garantias para investir no negócio, contribuindo para o desenvolvimento do País. O BNDES, inclusive, pretende exigir a inspeção acreditada para o financiamento de obras e projetos de infraestrutura.

Outra novidade iniciada no ano passado é a acreditação de Organismos de Certificação de Sistemas de Gestão Antissuborno, com base na norma internacional ISO 37001. Para este programa, já temos dois organismos acreditados e oito em fase de acreditação. Eles irão avaliar como é a gestão das empresas com foco no antissuborno, baseados em diversos parâmetros (por exemplo, o cumprimento da legislação brasileira e internacional pelas áreas de compra). Estamos trabalhando em parceria com a CGU, que está orientando que as empresas busquem a certificação acreditada pelo Inmetro.

Os dois programas têm atraído interesse dos setores privado e governamental e estamos sendo convidados para dar palestras sobre eles em vários fóruns de representação no Brasil e no exterior. São iniciativas de grande representatividade, que lançam o Brasil e o Inmetro de forma muito interessante no cenário internacional. Exportar conhecimento também é o nosso negócio!